A mudança de estilo de M. Night Shyamalan
Após uma década marcada por bilheterias oscilantes e críticas negativas, diretor de O Sexto Sentido adapta série animada infantil
Desde o momento em que estourou com O Sexto Sentido (1999), o cineasta M. Night Shyamalan foi apontado pela crítica como um possível sucessor do mestre do suspense Alfred Hitchcock - o que, somada a sua admiração pelo diretor britânico, o impulsionou a trabalhar com uma mesma fórmula em seus filmes, em que o espectador sempre era surpreendido nos momentos finais da projeção.
O problema é que em sua busca por um estilo próprio, uma assinatura que singularizasse seus trabalhos, Shyamalan tornou-se escravo da fórmula que o consagrou e passou uma década tentando repetir o enorme sucesso de O Sexto Sentido - longa-metragem que rendeu absurdos US$ 672 milhões a um custo de US$ 40 milhões, além de receber seis indicações ao Oscar, entre elas a de filme e diretor.
Antes dele, o cineasta havia realizado apenas dois filmes: o desconhecido Praying with Anger (1992) e o fracasso Olhos Abertos (1998), que custou US$ 6 milhões e arrecadou apenas US$ 1.2 milhões, aumentando ainda mais o mérito obtido com a bilheteria avassaladora no ano seguinte.
Certo de que havia encontrado a equação mágica, Shyamalan seguiu repetindo-a incansavelmente. Com o prestígio em alta, o diretor conseguiu repetir a parceria com Bruce Willis em Corpo Fechado (2000), que ainda contou com Samuel L. Jackson no elenco. Porém, como escreveu a crítica do Los Angeles Times, "a sombra de O Sexto Sentido cai sobre Corpo Fechado", fato que diminuiu o valor de sua bilheteria bem sucedida, com US$ 248 milhões arrecadados diante de um orçamento de US$ 75 milhões.
Ainda com o apoio dos estúdios, o diretor escalou o astro Mel Gibson para estrelar Sinais (2002), suspense com temática alienígena que a partir de um custo de US$ 72 milhões arrebatou US$ 408 milhões em bilheterias. Ainda assim, a crítica seguiu comparando o longa-metragem com O Sexto Sentido.
Em A Vila (2004) Shyamalan decidiu abrir mão do recurso sobrenatural e partir para um filme mais realista, em que uma comunidade isolada no século 19 é assombrada por histórias de criaturas da floresta. Mais uma vez o cineasta provava seu valor aos estúdios, transformando um orçamento de US$ 60 milhões em arrecadação de US$ 256 milhões. A crítica, porém, não perdoou o diretor, a exemplo do jornal The Washington Post, que classificou o filme como "uma decepção desconcertante".
De volta ao estilo fantasioso, Shyamalan colocou o cultuado ator Paul Giamatti no centro de A Dama na Água (2006), a pior arrecadação do cineasta após O Sexto Sentido - US$ 72 milhões contra um custo de US$ 70 milhões. A história do zelador que encontra uma ninfa aquática na piscina de seu condomínio não convenceu a crítica, que chegou a colocar a produção como o Showgirls dos filmes de fantasia.
O próprio diretor foi duramente criticado por sua participação no filme, em que faz um escritor cujo trabalho iria mudar o mundo. Assim como Hitchcock, Shyamalan sempre fez pontas em seus trabalhos, mas com o passar dos anos suas aparições tornaram-se mais verborrágicas, alcançando seu "auge" em A Dama na Água.
Quando Fim dos Tempos (2008) estreou Shyamalan já havia caído em descrédito. Apesar da bilheteria ter somado US$ 163 milhões, três vezes o valor de seu orçamento, o longa-metragem estrelado pelo pouco carismático Mark Wahlberg só não foi mais criticado depois que o próprio diretor afirmou ao New York Daily New que seu objetivo era fazer "um excelente filme B".

O ator mirim Noah Ringer como o herói de O Último Mestre do Ar: adaptação é alvo de críticas severas
Agora, com o lançamento nacional de O Último Mestre do Ar, o público brasileiro pode conferir o filme que marca uma grande mudança na carreira de M. Night Shyamalan: o abandono da fórmula que o consagrou com O Sexto Sentido e o perseguiu durante uma década para abraçar os épicos infanto-juvenis, em alta desde o lançamento do primeiro Harry Potter, em 2001.
Até agora a adaptação da animação Avatar, que conta a saga de um mundo mágico onde reinos baseados nos quatro elementos (ar, água, terra e fogo) têm o fim de um período negro anunciado pelo surgimento de um profético salvador, arrecadou US$ 198 milhões a um custo de US$ 150 milhões.
Porém, para azar de Shyamalan, a mudança de ares não foi suficiente para afastar as críticas negativas - muito pelo contrário. O desenvolvimento raso dos personagens, o mal uso da tecnologia 3D e a escalação de atores caucasianos para papeis originalmente asiáticos são alguns dos pontos que colocam O Último Mestre do Ar como forte candidato a pior filme do ano.
Fonte: www.ig.com.br